Agora que regresso para limpar o pó que se acumulava por cima do contador de visitas e para cortar algumas silvas que aqui e ali apareciam e davam um ar de abandono ao blogue, tenho a noção de estar a arruinar todo o meu futuro. Depois de um texto sobre um assunto duplamente sagrado, a Igreja, escrevo agora sobre outro dos temas intocáveis: o clube de futebol.
É que, de tempos a tempos, dá-se a aparição de uma espécie bastante bizarra que dá pelo nome de benfiquista.
O benfiquista é um adepto que se habituou a sofrer ao longo dos últimos anos e que, talvez por isso, apenas dá mostras de que realmente existe quando a ocasião é de festa. Mas o mais estranho no adepto encarnado é a sua linguagem, partilhada por todos os elementos e utilizada em todas as ocasiões. Vamos a exemplos concretos:
Imaginemos que um adepto do Sporting é interpelado por um jornalista no final de um jogo, dando-se o seguinte diálogo:
Jornalista: -O que achou do jogo?
Adepto sportinguista: -Penso que o Sporting fez uma exibição exímia e a vitória, sem qualquer tipo de desprimor para o adversário, poderia ter sido bem mais avolumado. Efectuámos uma constante pressão no meio-campo adversário, cortando as linhas de passe e construímos o nosso jogo ofensivo com parcimónia, pois o adversário tem atletas de grande calibre na condução de céleres contra-ataques. O nosso treinador esteve brilhante nas alterações e leu muito bem o jogo em termos tácticos.
Constatamos que o adepto sportinguista é uma pessoa que sabe do que fala e está preparado para responder às questões.
Façamos agora o teste com um adepto portista:
Jornalista: - O que achou do jogo?
Adepto portista: - Ganhámos bem, dominámos do princípio ao fim. Penso que a óptima disposição táctica da equipa aliada a uma boa transposição defesa-ataque esteve na base da vitória. A colocação de um líbero rápido atrás do central de marcação demonstra que o nosso técnico estudou o adversário, procurando anular o perigo do ataque do nosso antagonista de hoje. De realçar ainda a colocação de dois médios fortes na marcação e no preenchimento de espaços que libertaram o nosso criativo apenas para a construção de jogo e rombo para o lugar do ponta-de-lança, sem ter quaisquer preocupações defensivas.
Verificamos que o adepto portista tem variadíssimos conhecimentos técnico-tácticos e sabe analisar um desafio de futebol.
Passemos agora ao benfiquista:
Jornalista: -O que achou do jogo?
Adepto benfiquista: -(com o “coirato” na mão) BENFICA, BENFICA, BENFICA...
Jornalista: (insiste) Acha que o Benfica ganhou bem?
Adepto benfiquista: -(cuspindo metade do “coirato”) BENFICA, BENFICA, BENFICA...
Jornalista: (querendo obter uma resposta) Como se chama?
Adepto benfiquista: (com o bigode cheio de “coirato”) BENFICA, BENFICA, BENFICA...
Esta é a linguagem do benfiquista. Não vale a pena. Deêm-lhes fogo de artifício, tirem-lhes o Rui Costa, digam que o Fyssas é bom jogador (sem se rirem). A resposta é invariavelmente a mesma.
JM