domingo, fevereiro 20, 2005

Expectativas

Aqui está mais uma tentativa de escrever algo de diferente daquilo a que vos habituei. Este texto revela de algum modo o meu estado de espirito e não vendo necessidade de abrir outro blog por causa de um texto aqui está.

Saio para rua, os corvos que sobrevoam a minha cabeça tornam-se cada vez mais uma imagem habitual, sigo um caminho ladeado de flores negras, mortas pela sede, afastando as moscas que cobrem cadáveres que outrora procuraram o caminho da felicidade mas falharam. Cada vez me sinto mais como um deles, procurei em vão o tónico da alegria eterna mas esse não existe mas foram precisas muitas cabeçadas e muitos pontapés para que me apercebesse disso.
Se ontem o mundo me parecia côr-de-rosa, agora não é mais do que um cinzento sem vida, sem alegria, rasgado por vagos riscos rosa que desaparecem aos poucos. A cada sonho destruído, a cada desilusão, a cada desejo lancetado do meu corpo cada vez mais esses rasgos de alegria são substituídos pelo cinzento morto.
Procuro saber o que está errado comigo prosseguindo o caminho, porque estarei eu tão vazio por dentro? Vozes dentro da minha cabeça dizem-me para voltar as costas à humanidade que mais uma vez me desiludiu, quanto mais esperamos de uma pessoa maior é a desilusão provocada, porquê esperar mundos e fundos de alguém que sabemos que não nos podem dar?
As chamas do amor ardem sem se ver, as da desilusão queimam-nos por dentro, apertam tanto que me sinto sufocar. Tento-me libertar desta corda que me envolve, corro furiosamente tentando deixar tudo para trás, procuro aquele rapaz que se ria a bandeiras despregadas dele próprio, capaz de fazer rir o mais sizudo dos humanos, com uma aura de luz muito própria que o envolvia mas não há resposta, não há vontade para voltar. Lágrimas correm fortemente pela minha cara, ao ritmo dos rápidos passos da minha corrida, mas eis que aparece um precipicio que os meus olhos fechados não deixam antever, caio gritando desesperadamente por ajuda mas em vão, não tenho onde me agarrar, ninguém está por perto...
Caio e desapareço na escuridão...

AS

Dedico este texto à Yara